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SÃO JORGE
Mont Ferran
Tipo de Sítio: Naufrágio
Localização: São Jorge > Calheta > Calheta
Zona: Baía da Calheta
Cronologia: Século XIX
Ano: 1864
No dia 9 de junho de 2016, foram reconhecidos os elementos de um naufrágio, no centro da antiga baía da Calheta, caraterizáveis por se encontrar em baixios, que teriam necessariamente rasgado o fundo de um navio, levando-o a soçobrar. O acidente parece ter sido provocado por terem mandado ferro ao largo da Calheta, em local errado, de quem desconhecia o porto, tendo o fundo rasgado nos baixios, levando a barca a encalhar no imediato areal e soltando-se a linhaça (baganha), que chegou a dar à costa na ilha do Faial. Parte dos salvados da Mont Ferran são ainda visitáveis, no Solar dos Noronhas, morada dos antigos capitães-mor.
O movimento contra a escravatura começa a ganhar força no último quartel do século XVIII, embalado pela época das luzes, beneficiando proteção do sistema político inglês e do apoio da Igreja Protestante. O primeiro passo que constituiu uma vitória diplomática inglesa, foi a conseguida no Congresso de Viena (1814-1815), no seguimento da derrota napoleónica. Depois de várias discussões, que tiveram Portugal e França como principais interlocutores, chegou-se a um acordo que acabou por ser determinante. Pela primeira vez a questão da escravatura originou uma tomada de posição internacional com a Declaration of Powers Against Slave Trade, a ser assinada em 1815 por todas as potências coloniais.
Pouco tempo depois, em 1818, a França toma a decisão de abolir o tráfico de escravos, e Portugal, em 1836, avança no mesmo sentido. Todavia, estas iniciativas legislativas não significaram o fim do tráfico de escravos, tendo este continuado ilegalmente. Somente a partir da década de 60/70 do século XIX se pode dizer que o tráfico transatlântico estava finalmente acabado. Os barcos negreiros partiam da Europa, rumo à costa africana, embarcavam escravos que eram vendidos em Cuba, trazendo então algum produto legal, no caso linhaça, para o porto de partida. A barca Mont Ferran é um dos últimos navios negreiros do mundo que se dedicaram ao tráfico transatlântico.
Notas de mergulho:
Situado a -12 metros, entre os montes espigosos que quase afloram à superfície, é identificável pela presença de três âncoras (duas em conjunto e uma mais afastada), das pelo menos quatro existentes num navio.
Fotografias:
01. Grupo de crianças escravas a bordo do “Daphne”, George Sullivan, 1869.
Crédito: © Dhow chasing in Zanzibar waters and on the eastern coast of Africa. Narrative of five years’ experiences in the suppression of the slave trade. S. Low, Marston, Low & Searle, London, 1873
02. Cartaz que retrata as condições durante o transporte de escravos de África para a América.
Crédito: Free commons
03. Escravos resgatados da África oriental a bordo do HMS Daphne, um navio naval britânico utilizado para impedir o transporte de pessoas escravizadas, 1868.
Crédito: Free commons
04. Tábua curvada e decorada da proa da barca Mont Ferran, com tridente de Neptuno e parreira, c. 1864.
Crédito: Coleção particular de Orlando Noronha
05. e 06. Algemas e chave e Grilhão fixo, em ferro, c. 1864.
Crédito: Coleção particular de Orlando Noronha
07. Mecanismo de rolamento de correntes e corrente associada, em ferro, c. 1864.
Crédito: Coleção particular de Orlando Noronha






